Problemas para manter sua opinião?
- Verônica Reis
- 4 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de jul. de 2020
Se você acha difícil se posicionar sem magoar alguém, incluindo você mesmo, pode ser que você não se comporte com assertividade. Felizmente, antes de falarmos do tema é importante pontuar que seu treino faz parte do conjunto de habilidades sociais que podemos desenvolver durante a vida. E, enquanto tal, seu emprego pode nos ajudar a expressar sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos de modo adequado à situação, respeitando os outros e a si mesmo.
Mas o que, de fato, é assertividade?
Assertividade é um estilo de resposta a situações-problema que preza pelo “exercício dos próprios direitos e da expressão de qualquer sentimento com controle da ansiedade e sem ferir o direito do outro” (Penido & Pinheiro, 2019: 323). Assim, quando nos comportamos assertivamente expressamos nossos sentimentos com clareza, firmeza, segurança e decisão. A posição assertiva é o meio do caminho entre a passiva, em que nos expressamos muito pouco e muito tarde ou nunca, e a agressiva, na qual o fazemos muito e muito rápido ou muito tarde (Caballo, 2003).
Caballo (2003) discorre em detalhes sobre os componentes verbais e não-verbais presentes no comportamento assertivo bem como treiná-los. Não cabe neste breve texto elencar todos os pormenores, mas podemos sugerir duas estratégias para favorecer sua frequência:
1. Fogging: esta é uma técnica útil se as pessoas estão se comportando de maneira manipuladora ou agressiva. Já que em lugar de rebater o argumento, dá-se uma resposta curta e calma, enquanto ao mesmo tempo não concorda em atender às demandas.
Ao usarmos o fogging concordamos com qualquer verdade que possa estar contida em declarações, mesmo que críticas. Ao não sermos defensivos ou argumentativos, a outra pessoa cessará o confronto, pois o efeito desejado não é alcançado. Quando a tensão na atmosfera baixa, podemos discutir as questões mais razoavelmente.
Tome por exemplo o diálogo abaixo:
A. “Isso são horas de chegar? Você está quase meia hora atrasada, estou de saco cheio disso.”
Resposta no fogging:
B. “Sim, eu estou atrasada e vi que isso te deixou irritada”
A. “óbvio que isso me deixou irritada, estou te esperando há muito tempo. Você devia ter mais consideração com os outros.”
B. “É, eu fiquei preocupada que você ia ficar me esperando por quase meia hora”
A. “Pois é, afinal por que estava atrasada?”
2. Disco arranhado: nesta técnica você expõe seu posicionamento calmamente quantas vezes forem necessárias. Ou seja, ela envolve comunicar e repetir o que você quer, mas sem elevar o tom da sua voz, ficar zangado, irritado ou envolvido em questões paralelas ao tema central.
Por exemplo, imagine que você está devolvendo sapatos defeituosos a uma loja. A conversa pode ser a seguinte:
A. “Comprei esses sapatos na semana passada e os saltos caíram. Eu gostaria de um reembolso, por favor.
B. “Parece que eles foram usados muito e esses sapatos são feitos apenas para uso ocasional.
Resposta do disco quebrado:
A. “Eu comprei o par há uma semana e eles estão com defeito. Eu gostaria de um reembolso, por favor.”
B. “Você não pode esperar que eu devolva seu dinheiro depois que você já os usou.”
Resposta do disco quebrado:
A. “Os saltos caíram depois de apenas uma semana e eu gostaria de um reembolso, por favor.”
... e assim por diante.
A repetição contínua de um pedido garantirá que a discussão não se desvie e envolva argumentos irrelevantes. A chave é manter a calma, ser muito claro no que você quer, manter o objetivo e não desistir.
Aceite um compromisso apenas se estiver satisfeito com o resultado.
Estas são apenas duas de muitas técnicas disponíveis para o treino da assertividade e foram traduzidas do site skillsyouneed.com. Vale lembrar que, como qualquer treino de habilidade, sua aplicação envolve entender o contexto no qual você se encontra para entender se é cabível. Portanto, lembre-se de (Caballo, 2003: 380):
I. Avaliar a situação
II. Experimentar novas situações e comportamentos na prática
III. Avaliar seu comportamento
IV. Praticar os novos comportamentos nas interações da vida real
E, se tiver dificuldades, entre em contato com um(a) profissional de saúde mental.
Leitura Sugerida:
Caballo, V. E. (2003). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo: Santos.
Penido, M. A; Pinheiro, T. C. (2019). Habilidades sociais. In: Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. M. R. Carvalho, L. E. N. Malagris e B. P. Rangé (Orgs.). pp. 322-331. Novo Hamburgo: Synopsis.

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