Aprender cansa? Leia sobre prática deliberada
- Verônica Reis
- 15 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Com a chegada da pandemia, muitos de nós fomos surpreendidos por grandes mudanças em nossas rotinas e, em paralelo, a necessidade de desenvolver habilidades em tempo recorde. Aprender a utilizar plataformas de vídeo conferência, atender às demandas de chefes e familiares no mesmo ambiente e dominar tecnologias diversas com excelência entraram bruscamente em nossos cotidianos sem pedir licença.
Essa enxurrada de novas demandas jogou luz sobre a interação entre aprendizagem e estresse. Neste sentido, alguns estudos sobre maestria, especialmente os iniciais do psicólogo sueco Anders Ericsson, versam sobre a prática de uma atividade por mais de dez mil horas para que alguém se torne um especialista.
Posteriormente, o próprio Ericsson juntamente com Robert Pool (2016) reviu tal prerrogativa e pontuaram que não é toda a prática que leva a perfeição. Isto é, para que haja aprendizagem que promova melhoria é preciso que exista a prática deliberada. Tal prática envolve saber o que se quer aprender, investir tempo nisto, receber feedback, identificar o que você realmente pode fazer para melhorar e focar seu treino naquele aspecto em particular para daí integrar tudo em sua performance cotidiana.
Um exemplo ilustrativo poderia ser o de alguém que quer se tornar proficiente em um idioma estrangeiro. Adianta muito pouco esta pessoa viajar e passar algumas semanas no país conversando com nativos que com boa vontade lhe entenderão, mas não lhe darão feedback. As chances desta pessoa voltar ao seu país de origem acreditando saber tudo são grandes, mas, não raramente, quando esta mesma pessoa necessitar do idioma profissionalmente ela poderá ter, na verdade, uma fluência inconsistente e um comando da língua questionável. Nesse mesmo sentido, desconfie de promessas de que você pode aprender uma nova habilidade em um tempo muito reduzido ou com muito pouco esforço. Aprender é cansativo e dá muito trabalho, mas os resultados são deliciosamente recompensadores.
Infelizmente, a pandemia não permitiu que nós pudéssemos dispor de tempo para desenvolver novas habilidades e nem mesmo para termos uma noção do que deveríamos priorizar neste contexto no qual tudo é novidade. E como já observamos no texto, qualquer aprendizagem demanda gasto de energia o qual quando em excesso pode levar à exaustão.
O estresse vem em fases de alarme, resistência, quase-exaustão e exaustão (Lipp e Malagris, 2011), as quais discorrermos na próxima semana para não nos delongarmos excessivamente. Por hora, fica o convite para você pensar nos objetivos que quer alcançar e habilidades que quer desenvolver usando as dicas do próprio Anders Ericsson (2016):
1. Defina uma meta: identifique algo específico e pontual que você pode de fato desenvolver.
2. Planeje seu dia: para ter sucesso planeje seu dia em torno da sua prática. Verifique em que período do dia você se concentra melhor e nunca esqueça da importância do sono para sua performance. Dormir bem é importantíssimo e você pode encontrar algumas dicas para isso na postagem sobre sono clicando aqui.
3. Encontre alguém que já atingiu o objetivo que você quer alcançar: alguém que já ensinou outras pessoas no seu nível atual e lhes ajudou a chegar lá pode ser uma ótima fonte de feedback. Este é basicamente o trabalho de um coach profissional e ético.
E, mais importante, lembre-se que ninguém nasceu pronto! Se estiver difícil, peça ajuda.
Caso você opte por ajuda profissional, não se esqueça de checar suas referências.
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Leituras Sugeridas:
Ericsson, A, & Pool, R. (2016) Peak: Secrets from the New Science of Expertise. Houghton Mifflin Harcourt.
Lipp, M. & Malagris, L. E. N. (2011). Estresse – Aspectos históricos, teóricos e clínicos. In Rangé, B. (Ed.), Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. Um Diálogo com a Psiquiatria (2a ed., pp. 617–632). Artmed.

Muita gente desiste de aprender uma língua estrangeira justamente pelos motivos que você descreveu. O aluno (principalmente adulto) tem expectativas irreais, crendo que vai dominar a língua rapidamente e sem esforço.