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Seu pensamento anda muito inflexível? Leia sobre treinamento de flexibilidade cognitiva

Foto do escritor: Verônica ReisVerônica Reis

Quando o paciente chega no consultório, não é raro nos depararmos com um elevado grau de sofrimento frequentemente associado a ideia fixa de que não se sabe mais o que fazer e a sentimento de frustração e impotência. Nesses casos, o treinamento de flexibilidade cognitiva aparece como alternativa pertinente para promoção do crescimento e insight para seu bem-estar.


Dentro da psicologia cognitivo-comportamental (e em certa medida também na psicologia da Gestalt), a nossa conexão com o momento presente e assim com nossos cinco sentidos e nossa permissão para experimentar e sentir é considerada chave para sermos mais flexíveis. Isto é, no momento que entramos em contato com o momento presente acessamos nossos sentimentos e sentidos e compreendemos nossa autonomia no poder sentir (Lopes, 2020).


Ficou confuso?


Imagine sua vida agora e pergunte-se:


Nesse momento, eu estou perto ou afastado do que quero para mim? Será que eu estou mais próximo do que não é importante para mim?


É interessante notar que a ruminação de pensamentos faz com que entremos num ciclo de ansiedade. Desta forma, ao nos permitirmos viver no passado abrimos uma porta para pensamentos depressivos que nos levam para onde não queremos estar.


Prestar atenção ao que sentimos, observar o contexto no qual sentimentos, pensamentos e comportamentos surgem e se eles nos aproximam ou afastam do que queremos, leva o nome de autoconsciência. Aqui, partiremos do princípio que adaptamos nossas ações e reações aos contextos em que estamos. Assim, é importante distinguir o contexto interno: o que passa no momento e como interpretamos o sucedido; e o contexto externo: onde estamos e com quem estamos interagindo (notando sempre seu comportamento verbal e não-verbal).


Por exemplo, a pessoa que descarrega raiva contigo pode estar num momento em que não se consegue resgatar seu equilíbrio emocional, dessa forma não adianta muito rebater com igual agressividade. Pode-se pedir para retomar a conversa em um outro momento e assim escolher uma ação que tenha relevância para você no momento, como por exemplo ter paz em lugar de atrito. Vale a pena utilizar a técnica do disco rachado (que explicamos neste post) e assim agir com consciência na direção do seu próprio bem-estar.


Mas isso dá certo mesmo?


Como já propôs o título do post, estamos falando de treinamento e como tal a prática constante é recomendada. Algo que pode ajudar muito é trocar julgamento por observação ou constatação de um fato ou emoção. Vejamos um exemplo:


Situação: Não gostei de como tal pessoa falou comigo.


Comportamentos verbais: Posso chegar para ela e falar:


a) ‘Eu não me senti muito bem da maneira como você fez suas colocações comigo’, ou;

b) ‘Nossa, você é muito grosso e não sabe falar com as pessoas! ’

Perceba que em ‘b’ estamos fazendo um julgamento e causando mal-estar para a pessoa e para nós mesmos, mas em ‘a’ ao fazemos uma constatação, nos damos a chance de perceber, por exemplo, que essa pessoa teve uma manifestação agressiva conosco, mas que isso não necessariamente fala sobre quem somos. Sem dúvida, algumas colocações nos doem mais que outras, mas não podemos voltar no passado e desfazer a maneira com que a pessoa falou. Vale lembrar que cada um é autor de suas escolhas comportamentais e assim responsável por suas palavras, mas podemos apontar que não nos sentimos bem com certas conjunturas.


No contexto da pandemia, a dificuldades de comunicação têm sido um grande desafio para a vida a dois. Há como melhorar o relacionamento de casal?


A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) dirá que sim, já que ao utilizarmos da percepção ampliada no nosso relacionamento com o outro poderemos notar que não somos só nós que estamos ‘enlouquecidos’ na pandemia. Isto é, ao notarmos as alterações no outro também perceberemos o nosso comportamento diante da alteração dele. A partir daí conseguiremos escolher qual será nossa resposta comportamental ao que o outro nos traz e assim poderemos exercitar nossa compaixão. Lembrando que compaixão começa com o respeito que temos a nós mesmos para daí estender aos que nos ladeiam e daí podermos respeitar, nos fazer respeitar e sentir respeito.


A Matrix Comportamental de Kevin Polk (2016), precursor da ACT, oferece algumas perguntas que podemos nos fazer a fim de entender a quantas anda nossa autocompaixão e flexibilidade cognitiva:

  1. O que é importante para você?

  2. Que fatores internos têm ficado no seu caminho quando tenta se mover na direção do que é importante para você? Do que você tem se distanciado?

  3. O que você tem feito até agora para lidar e se distanciar dos fatores internos que você não quer ter?

  4. Que comportamentos você pode ter para ir na direção do que é importante para você enquanto os fatores internos ainda estão lá?

  5. Você está experimentando seus sentidos e testando seus pensamentos acerca de tudo isso?

  6. Trabalho de casa: Note o que te aproxima e o que te afasta do que você quer.


Para Lopes (2020), a flexibilidade é processo de crescimento e modificação no qual estão inclusas questões de resiliência, mas também outras questões de comportamento externo e interno sobre como alguém vai atuar.


Enfim, como nos tornamos flexíveis emocionalmente?


Parando e sentindo. Nosso contexto individual poderá ser influenciado pela a prática de exercícios de mindfulness e tempo presente que possibilitarão a percepção do meio interno e externo e assim a escolha de comportamentos que estejam de acordo com o que você procura. A meditação, por exemplo, traz aumento nas conexões neuronais em diversas faixas etárias (Lopes, 2020).


Mas, ser flexíveis toda hora não nos torna fracos? Não iremos absorver muitas frustrações?


Ser flexível não significa que teremos comportamentos de auto sacrifício e de busca de aprovação direta por outra pessoa. A flexibilidade inclui a percepção de quais momento preciso me posicionar. Por exemplo, pais precisam dizer ‘não’ como representação de amor aos seus filhos. Dosar é importante pois auto sacrifício tira o auto respeito enquanto flexibilizar o potencializa junto com o respeito ao outro.


Por fim, tenha compromisso com seu bem-estar, não há como esperar resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa.


Se esta abordagem fez sentido para você, psicólogos profissionais com treinamento em terapias comportamentais contextuais ou mesmo em Gestalt podem ser opções interessantes.


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Leituras Sugeridas:


Lopes, J. B. (2020). Treinamento da Flexibilidade: Quando nós e nossas crianças enlouquecemos. Porto Alegre: Sinopsys.

Polk, K. L., Schoendorff, B., Webster, M. & Olaz, F. O. (2016). The Essential Guide to the ACT Matrix: A Step-by-Step Approach to Using the ACT Matrix Model in Clinical Practice. Oakland: New Harbinger.


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