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Por que algumas pessoas se excluem de cumprir regras sociais? Leia sobre desengajamento moral.

  • Foto do escritor: Verônica Reis
    Verônica Reis
  • 8 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Nestes últimos meses vêm aparecendo tanto no consultório quanto em redes sociais indignação diante do comportamento de parte da população no que diz respeito as medidas de proteção necessárias contra a propagação do COVID-19. Em vista dessa situação, podemos pegar emprestadas explicações da psicologia social para tentar compreender por que algumas pessoas se desobrigam do cumprimento de regras.


Já falamos um pouco de Albert Bandura na postagem da semana passada e é a luz de conceitos de sua Teoria Social Cognitiva que contemplaremos o desengajamento moral. O desengajamento ou desobrigação moral é “a tentativa própria do ser humano de camuflar ações prejudiciais para não sofrer autossanção moral e assim não se sentir culpado por seus atos” (Amorim e Pereira, 2020: 119).


O autor elabora sobre oito processos que efetivam o desengajamento moral e podem ser observados em diversas situações corriqueiras, inclusive no dia-a-dia da pandemia. Roberta Azzi (2011: 214-215) os sumariza da seguinte forma:


1. Justificativa moral

opera quando o que é culpável pode se tornar uma conduta pessoal e socialmente aceitável. Exemplo: “Não há problemas em bater em alguém quando sua honra é ameaçada” (Iglesias, 2008, p. 169).

2. Comparação vantajosa

opera quando condutas prejudiciais parecem ter uma consequência pequena, se comparadas com atividades mais repreensíveis do que elas. Exemplo: “Não há mal em insultar um colega, porque bater nele seria pior” (Iglesias, 2008, p. 170).

3. Linguagem eufemística

opera quando há um mascaramento de atividades repreensivas na forma como são nomeadas, para diminuir a gravidade da ação ou conferir-lhe um status mais respeitável. Exemplo: “Dar tapas e empurrões em alguém é só uma forma de brincadeira” (Iglesias, 2008, pp.169-170).

4. Minimização, ignorância ou distorção das consequências

opera quando as pessoas acreditam fazer o mal pelo bem ou que os fins justificam os meios, minimizando o mal que causam, evitando encará-lo ou negligenciando-o. Exemplo: “As crianças não se importam de serem caçoadas, porque isso mostra que elas estão recebendo atenção” (Iglesias, 2008, p.171).

5. Desumanização

utilizada quando se retiram das pessoas suas qualidades humanas ou quando se atribuem a elas qualidades bestiais. Exemplo: “Alguém que é desagradável não merece ser tratado como um ser humano” (Iglesias, 2008, p. 171).

6. Atribuição de culpa

opera quando as pessoas veem a si mesmas como vítimas sem culpa, pressionadas a agir de forma prejudicial por uma provocação forçada, ou então a ver suas vítimas como culpadas e merecedoras de seu prejuízo. Exemplo: “Se as pessoas são descuidadas com seus pertences, então a culpa é delas se forem roubadas” (Iglesias, 2008, pp. 171-172).

7. Deslocamento de responsabilidade

recorre-se à ideia de que outras pessoas estão agindo na mesma intenção. Exemplo: “Se uma criança está vivendo sob más condições, ela não pode ser culpada por se comportar agressivamente” (Iglesias, 2008, p. 170).

8. Difusão de responsabilidade

usada quando as pessoas veem suas ações como se estivessem emergindo de pressões sociais ou de imposições dos outros, muito mais do que algo pelo que são pessoalmente responsáveis. Exemplo: “As crianças não podem ser culpadas por falar palavrão quando todos os seus amigos o fazem” (Iglesias, 2008, pp. 170-171).


Lembrou de ouvir em casa aquele famoso “você não é todo mundo!”? Então, era muito provavelmente a tentativa de quem cuidou de você de lhe tornar responsável pelas suas ações e saber que elas têm impacto na vida em sociedade. Reconheceu alguns comportamentos das pessoas durante a pandemia? Tente não ficar com raiva e lembre-se que não é porque um monte de gente está deliberadamente não observando as recomendações sanitárias que você deve fazer o mesmo. Afinal, você não é todo mundo.


Se a situação de confinamento está lhe deixando com mais ansiedade do que você gostaria, procure auxílio psicoterapêutico.


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Leitura Sugerida:

Amorim, Wellington Lima; Pereira, Karla Fernanda (2020). Desengajamento moral e assédio sexual no Brasil. Cadernos Zygmunt Bauman, 10 (22), 119-137. http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/view/13828

Azzi, Roberta Gurgel. (2011). Desengajamento moral na perspectiva da teoria social cognitiva. Psicologia: Ciência e Profissão, 31(2), 208-219. https://doi.org/10.1590/S1414-98932011000200002

Iglesias, Fabio. (2008). Desengajamento moral. In A. Bandura, R. G. Azzi, & S. Polydoro (Org.), Teoria social cognitiva: conceitos básicos (pp. 165-176). Porto Alegre: Artes Médicas.


2 Comments


Verônica Reis
Verônica Reis
Aug 10, 2020

Sim, Angela! É verdade! No artigo da Roberta Azzi tem esse diagrama que ilustra bem os processos e como eles interagem entre si:



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Angela Dias
Angela Dias
Aug 10, 2020

Muita gente usa os processos 3, 4 e 5 para justificar bullying...

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