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Já ouviu falar de crenças? Veja uma relação sobre filosofia e crenças distorcidas

  • Foto do escritor: Verônica Reis
    Verônica Reis
  • 29 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Neste dia 27 de agosto foi comemorado o dia do psicólogo aqui no Brasil, pois este foi o dia que a lei deliberou sobre o exercício da profissão. Legalidades modernas a parte, desde tempos antigos o ser humano se interessa em saber sobre sua vida interior, sobre o “eu”. Aliás, vem do oráculo de Delfos a famosa frase ‘conhece-te a ti mesmo’, que hoje muitas vezes compreendemos como um olhar para dentro de nós e nos entendermos a partir daí. Contudo, para os gregos, a ideia era a de conhecer seus limites, saber que ao mesmo tempo que não somos animais, também não somos deuses.


Então, de quando vem esta ideia de interioridade individualizada ou personalidade?


Os primeiros esboços sobre individualidade aparecem dentro da monastérios de religião cristã no século II d.C. como uma forma de purificar a alma para alcançar Deus distinguindo o bem do mal. É no século XVII que o exame da interioridade passa a ter como objetivo a fuga das ilusões e o acesso a verdade seja pelo conhecimento da razão ou pelos sentidos. Existem muitos filósofos medievais e modernos dos quais a psicologia contemporânea vem, porém em se tratando de uma das viradas de chave fundamentais para o sujeito moderno temos em Descartes (1971 [1641]: 100 apud Ferreira, 2006:19 – grifo nosso):


Não há, pois, dúvida que sou, se ele (o suposto Gênio Maligno) me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa.


Para quem se interessa num panorama de toda filosofia que proporciona o surgimento da psicologia como ciência e arte, o texto de Arthur Ferreira (2006) é um bom ponto de partida. Esta postagem dará um salto temporal significativo de proposições filosóficas de séculos passados para o nosso último século XX a fim de propor um paralelo interessante entre a prerrogativa cartesiana já citada com as proposições da psicologia cognitiva.


Como assim?


Quando Descartes declara seu famoso cogito ergo sum (penso logo existo) podemos pensar em termos de psicologia cognitivo-comportamental sobre as crenças. Elas costumam vir à tona através dos pensamentos automáticos. Apesar de raras vezes estarem acessíveis em nível consciente, as crenças existem e são capazes de guiar a forma como as pessoas vivem. Elas são ideias arraigadas que todos nós temos acerca de nós mesmos, dos outros e do mundo, e podem ser um tanto cruéis quanto acolhedoras.


Isto nos leva de volta a Descartes já que se concebemos as crenças como reais, elas assim serão. Consequentemente, faremos de tudo para comprovar sua realidade ou lutar contra elas. O trabalho do psicólogo cognitivo-comportamental na terapia é em conjunto com seu paciente investigar e confrontar racional e objetivamente seus pensamentos automáticos e crenças distorcidas. Assim, o paciente poderá ver que não é a situação que causa um problema, mas, sim, a percepção que se tem sobre ela e, em seguida, construir uma maneira mais realista ou ampla de pensar sobre os fatos.


A Terapia Racional Emotivo-Comportamental (TREC) do psicólogo americano Albert Ellis, precursora da Terapia Cognitivo-Comportamental, propõe uma forma interessante de constar opiniões e que até hoje utilizamos. Veja um exemplo (Collin et al, 2012: 145):


Adversidade: um acontecimento que cause angústia. -> Perdi meu emprego!


Convicções: pensamentos iniciais (irracionais) sobre o acontecimento. -> Não presto para nada. Jamais conseguirei outro emprego!


Consequências: sentimentos causados por essas convicções. -> Estou ansioso e deprimido


Contestação: examinar de modo racional essas convicções. -> Estou enxergando isso de um jeito muito equivocado!


Efeito: convicções revisadas e racionais acerca do que ocorreu. -> Vou conseguir outro emprego. Não é o fim do mundo.


Quando estamos emocionalmente debilitados, dificilmente conseguimos chegar à contestação das crenças sozinhos e é aí que a ajuda de um psicólogo profissional pode fazer toda diferença.


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Leitura Sugerida:

Ferreira, A.A.L. (2006). O múltiplo surgimento da psicologia. Jacó-Vilela, A.M; Ferreira, A. A. L; Portugal, F.T. (orgs.). História da psicologia: rumos e percursos. (pp. 13-46). Nau Editora.


Collin, C., Grand, V., Lazyan, M., Weeks, M., Benson, N., Ginsburg, J. (2012). Livro da Psicologia. Globo.



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