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Todo mundo tem um pouquinho de TDAH?

Foto do escritor: Verônica ReisVerônica Reis

No último dia 13 de julho foi celebrado o dia mundial do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, o famoso TDAH. Ele ganhou muita visibilidade no início deste século, mas seus sintomas vêm sendo descritos e catalogados no “discurso médico [como o] da criança idiota e do imbecil moral desde a segunda metade do século XIX” (Caliman, 2010:48).


Durante sua história, as três principais características do TDAH que são a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção, foram agrupadas e criaram laços que possibilitavam (ou até mesmo impossibilitavam) o diagnóstico. Conforme o tempo foi passando, cada uma delas foi alternando na posição de destaque de acordo com a época em questão. Porém, algo que parece uma constante no caminhar do TDAH é sua conexão com o ambiente escolar e, por consequência, a infância.


A instabilidade dos pequenos que são acometidos pelo transtorno é capaz de exasperar até os mais pacientes professores, fazendo da escola o lugar onde a suspeita diagnóstica surge. Com o advento de medicações como a Ritalina, a primeira indicação comumente pode ser a visita ao psiquiatra ou ao neurologista e ao psicólogo. Isso faz muito sentido porque quem é acometido pelo TDAH apresenta alterações neurológicas que são contornadas com muito sucesso através do uso continuado dos medicamentos e da terapia psicológica, desde que o diagnóstico seja bem feito.


Uma investigação minuciosa caso a caso é imprescindível já que sua falta faz com que muitas pessoas duvidem da existência de um transtorno, que desde 1902 mudou de definição mais de dez vezes (Caliman, 2010). É compreensível que associem seus sintomas ao excesso de informações às quais temos acesso, à falta de limites ou às demandas políticas e ideológicas da sociedade. Nesse cenário a editora Artmed esclareceu alguns mitos relacionados ao TDAH:


Mito 1: O TDAH não é um transtorno real, todos têm um pouco disso!

Não é verdade pois o TDAH não se baseia apenas na gravidade dos sintomas que causam prejuízo, mas também em sua interferência em diferentes cenários da vida.


Mito 2: Não existem anormalidades ou disfunções cerebrais no TDAH.

Não é verdade porque o TDAH é uma síndrome, o que significa que os indivíduos acometidos têm diferentes perfis de sintomas em uma das duas dimensões que caracterizam essa psicopatologia: a desatenção e a hiperatividade/impulsividade.


Mito 3: Como pode uma criança que passa horas focada no videogame ter TDAH?

Pessoas com TDAH não alcançam níveis energéticos para executar funções sem uma motivação moderada ou alta, devido a estrutura cerebral prejudicada, disfunção e/ou desequilíbrio de neurotransmissores.


Mito 4: O TDAH é um transtorno causado pelas demandas da sociedade moderna.

[...O TDAH tem suscetibilidade genética], assim a evidência de um transtorno com base genética contrapõe a ideia de uma psicopatologia causada por demandas da sociedade moderna.


Mito 5: As crianças com TDAH são menos inteligentes.

Não há evidências de que o TDAH está relacionado à inteligência. [O resultado de alguns testes de coeficiente de inteligência - QI] podem ser falhos ao estimarem um potencial QI mais baixo que o real.


Mesmo assim, um receio muito presente nos pais de crianças com TDAH é se a medicação deve ser iniciada. Aqui, devemos sempre lembrar que se o diagnóstico for bem feito e a criança for devidamente acompanhada por seu psiquiatra e redes de apoio, ela terá uma vida mais qualidade. Atualmente sabe-se que o tratar o transtorno adequadamente desde a infância reduz em quatro vezes o risco de abuso de substâncias fase adulta (Krause, 2020/notas de aula).


Nessa nota, é imprescindível lembrar que todo uso de medicamentos deve ser prescrito e acompanhado por um médico responsável. Tal profissional saberá as melhores doses e prescrições aos seus pacientes. Lembre-se que a automedicação pode trazer muitos malefícios à sua saúde. Em outras palavras, não use Ritalina para estudar: ao mesmo tempo que ela aumenta o tempo que você pode ficar acordado e concentrado, em casos graves, ela pode desencadear ataques de pânico em quem a toma sem a devida prescrição e acompanhamento.


Em caso de dúvidas procure acompanhamento com psiquiatra e psicólogo.


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Leitura sugerida

Caliman, Luciana Vieira. (2010). Notas sobre a história oficial do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade TDAH. Psicologia: Ciência e Profissão, 30(1), 46-61. https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932010000100005

Rohde, Luis Augusto; Buitelaar, Jan K.; Gerlach, Manfred; Faraone, Stephen V. (2019). Guia para Compreensão e Manejo do TDAH da World Federation of ADHD. Artmed.



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2 Comments


Verônica Reis
Verônica Reis
Jul 19, 2020

Oi Valéria, obrigada pelo comentário.

O estresse pode causar todos os sintomas que você relata. Especialmente considerando o aparecimento dos sintomas há um tempo bem delimitado e recente como você mencionou.

Sugiro a leitura do post sobre sono. Muitas vezes uma rotina de sono bagunçada pode ser fonte de muitos problemas de estresse, capacidade de concentração reduzida e irritabilidade.

É sempre muito importante olhar o contexto onde você está. Às vezes pequenas alterações já fazem grande diferença. 🙂

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Vaea Lopes
Vaea Lopes
Jul 19, 2020

Boa noite Verônica Reis, o assunto abortado por você é excelente, parabéns. Gostaria de relatar um fato que ocorre comigo, não sei exatamente se é diagnósticado como déficit de atenção, pois ainda não procurei um profissional, mas não consigo me concentrar em absolutamente nada, nem terminar uma simples leitura pra interpreta-lá...

Isso teve início pouco mais de 8 meses, esperei um tempo por pensar que era algo passageiro.

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