Você já ouviu falar de TOC? Conheça um pouco mais sobre o transtorno obsessivo-compulsivo
- Verônica Reis
- 3 de out. de 2020
- 4 min de leitura
Qualquer um de nós pode ter pensamentos desagradáveis e que não gostamos de ter. Contudo, para uma pessoa acometida pelo transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esses pensamentos assumem uma proporção tão grande e a angústia que causam é tão importante que elas desenvolvem rituais a fim de aliviar o desconforto. Os prejuízos aparecem, na maior parte das vezes, quando estes rituais ocupam tanto espaço na vida dessas pessoas que acabam deixando-as reféns deles.
Alguns estudos pontuam que para além de vulnerabilidades genéticas, neurobiológicas e ambientais, há quatro fatores de crenças que podem ser associadas aos sintomas obsessivos compulsivos: superestimar o risco, responsabilidade exagerada, perfeccionismo e intolerância à incerteza e importância de controlar os pensamentos (Cordioli e Braga, 2011: 328).
Os sintomas Obsessivo-Compulsivos podem aparecer em quatro formas:
· Verificação: por exemplo a pessoa verifica se trancou a porta de casa e todas as janelas muitas vezes antes de sair de casa e se não fizer isso sente-se mal. Os sintomas de verificação podem ser associados a crença de responsabilidade exagerada.
· Pensamentos de conteúdo indesejado: que costumam ser de conteúdo agressivo, sexual ou blasfemo e são tão recorrentes que a pessoa se vê contemplando-os mais do que gostaria. A pessoa pode por exemplo se imaginar maltratando gravemente um animal ou alguém querido e faz de tudo para encerrar o contato, mesmo que a angústia continue. A prevalência destes pensamentos pode estar conectada a crenças de exagerar a importância dos pensamentos e a necessidade de controlá-los.
· Limpeza ou contaminação: que assim como os sintomas de verificação pode estar associada ao perfeccionismo ou também a avaliação exagerada do risco. Aqui, a pessoa adere a rituais de limpeza como lavar a casa várias vezes até que ela fique limpa e ninguém se contamine com possíveis germes.
· Equivalência: pode estar ligada à intolerância à incerteza e ao perfeccionismo. Sintomas podem aparecer em comportamentos como a persistência de guardar os objetos sempre no mesmo lugar e na mesma ordem e ai de quem tirar do lugar.
Nos exemplos acima pudemos ver como interagem as obsessões com as compulsões. As obsessões “são os pensamentos, impulsos ou imagens intrusivas persistentes e recorrentes que são acompanhados de desconforto, medo ou aflição (ansiedade) ”. Já as compulsões “são os comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente compelida a executar em resposta às obsessões ou de acordo com regras rígidas” (ibidem: 330)
O TOC é um transtorno de ansiedade?
Mesmo sendo causa de grandes desconfortos, o TOC não é mais considerado um transtorno de ansiedade pois ganhou na 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) uma categoria própria para si. Mesmo assim, a ansiedade que a pessoa acometida pelo transtorno sente é um fator importante e o tratamento de escolha geralmente é enfrentamento e exposição. Em casos mais graves, acompanhamento medicamentoso pode ser indicado. A medicação de escolha frequentemente são os inibidores seletivos de serotonina.
O paciente de TOC puro é muito raro. Isso quer dizer que esse transtorno pode aparecer em conjunção com outros, como a depressão, por exemplo. Durante a avaliação dos sintomas, o ideal é diminuir os sintomas das comorbidades (doenças que estão em conjunto) antes de dar início ao tratamento dos sintomas do TOC. É interessante vir com respeito à história do cliente antes de iniciar a terapia de exposição e prevenção de ritual.
Há diagnóstico de TOC na infância?
Em entrevista recente, a psicóloga Cristiane Bortoncello afirmou que desde que se fechem os critérios de diagnóstico, esse transtorno acomete pessoas em qualquer idade. Por isso, é importante que se eliminem hipóteses orgânicas e ambientais antes de fechar um diagnóstico. Atualmente sabe-se, por exemplo, que infecções bacterianas por estreptococos podem produzir sintomas de TOC em crianças, ou mesmo pais com TOC sem perceber incutem os comportamentos nos filhos. Para ela, as crianças devem ser tratadas preferencialmente com terapia cognitivo-comportamental, em medicações, mas com educação das crianças e de seus cuidadores sobre a condição.
Aliás, a educar a família dos pacientes que sofrem com o TOC é fundamental já que muitas vezes, para evitar aborrecimentos, a família pode fazer movimentos para acomodar os sintomas e mesmo sem querer favorecer a persistência dos sintomas. Nesta mesma linha, vale ponderar que é mais interessante zerar os sintomas do TOC e não apenas diminuí-los, pois caso os sintomas voltem as pessoas já estão psicoeducadas e assim hábeis a enfrenta-los.
O TOC é um transtorno de identificação não tão simples pois às vezes pode estar escondido em outras condições psicológicas. Por isso, a evolução no tratamento depende bastante do nível de insight (percepção) que a pessoa tem sobre seus comportamentos e pensamentos. Dessa maneira, cada pessoa tem seu tempo e nem sempre o tratamento que para uma pessoa evolui rapidamente, para outra não é assim. Cada um tem sua história de vida e a pessoa vem antes do protocolo e para além do diagnóstico. O protocolo norteia, mas a pessoa existe no mundo.
Caso você tenha notado em você ou em alguém do círculo de relações algumas das características mencionadas, pode ser uma ideia interessante buscar acompanhamento psicológico profissional.
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Leitura sugerida:
Cordiolli, A. V. & Braga, D. T. (2011). Terapia cognitivo-comportamental do transtorno obsessivo-compulsivo. In Rangé, B. (Ed.), Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. Um Diálogo com a Psiquiatria (2a ed., pp. 325-343). Artmed.
Sinopsys Editora. (2020, agosto 21). O que você precisa saber sobre TOC e tem medo de perguntar | Lançamento Sinopsys. [Arquivo de Vídeo]. Disponível em: https://www.youtu.be/kk29NZVMfjc

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